quarta-feira, 23 de junho de 2010



E a fera se tornou príncipe...



Nada se contava como o primeiro dia de aula em uma nova escola, há menos de um ano eu estava pensando em como seria, eu teria bons amigos? Bons professores? Eles iriam gostar de mim? Eu me encaixaria no meio de algum grupo?

Estou certo que em todo primeiro dia de aula, deveria ser constrangedor, só que o meu foi o pior de todos, não havia ninguém conhecido, apenas uma garota que lembro ter estudado comigo desde a 1ª série no meu outro colégio, nós não nos falávamos e como estávamos perdidos ali no meio de tanta gente, resolvi me sentar perto dela. Ao me sentar, lembro-me de um monte de gente se abraçando e contando como foram suas férias; era todo mundo muito nojento, aparentava ser pelo menos. Eu fiquei quieto de cabeça baixa, esperando o professor entrar, descobrir qual seria minha primeira aula na escola nova. Então ele chegou, era Paulo, de matemática, ta certo, comecei bem o meu primeiro dia, a primeira aula é a matéria que eu mais odeio, mas tudo bem lembro de que alguns já o conheciam, ele se apresentou calmamente descrevendo como seria seu plano de aula, como ele avaliava os alunos e mais algumas coisas que eu havia de ter ouvido se algo não chamasse minha atenção para a porta.

Toc... Toc... Toc...

O professor falou em voz alta:

- Pode entrar!

Aconteceu à coisa mais incrível naquele momento, meu coração havia disparado como uma turbina de avião, meus olhos pararam de piscar e minha garganta havia secado, eu não sentia mais o chão, eu não sentia mais a terra, eu não sabia mais onde estava tudo era diferente, como se minha vida toda fosse apenas um sonho e eu acabava de acordar, como num passe de mágica. Era uma garota, sua pele era morena e perfeita, não havia manchas nem espinhas, sua sobrancelha era da mesma cor de seus cabelos, negros, eles brilhavam, só que havia vida em cada fio, eles eram estritamente lisos e ajeitados, ela podia balançar durante horas e ele continuaria intacto e sua boca, seus lábios eram de um vermelho amistoso, seus dentes acompanhavam sua beleza, eram brancos e muito bem enfileirados, mas nada disso se comparava ao seu corpo, que era magro, tudo bem colocado, ajeitado em cada lugar, como se fosse esculpido, algo perfeito, tão perfeito que ao mesmo tempo em que senti isso, havia também sentido como eu era, como eu era de verdade, eu não era bonito, nem tinha um corpo legal, nem meu cabelo era da moda e muito menos minhas roupas tinham estilo. Então meu sonho virou dor e como todo sentimento assim, me fez pensar em algum motivo para não chorar, não foi difícil pensar em algo, pois eu estava numa sala, cheia de alunos e eles iriam rir de mim, então me convenci a ficar quieto, ninguém precisava saber o que eu sentia, assim uma hora eu esqueceria...

Ah! Se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim?

Cecília Meireles

Passaram-se dois meses, percebi que alguns alunos eram diferentes do que eu pensava, alguns professores acabei descobrindo que eram muito bons e me ajudariam quando eu não entendesse o assunto que eles explicavam, a diretora era estritamente rígida com os alunos em relação a escola e a garota que eu acabei sentindo algo muito forte, é positivamente o oposto de mim em tudo, eu sou estudioso e ela porém não, ela é popular e eu não, eu tenho dois amigos que eu ando durante o intervalo e ela apenas metade da escola. Mas nem tudo é um mar de rosas, eu não ligava para sentimentos ou pelo menos tentava não ligar.

Aconteceu o improvável, ela veio falar comigo, perguntou se eu não queria fazer o trabalho com ela, pois não conseguia fazer perfeitamente as contas, que eram absolutamente fáceis se não fossem tão difíceis. Eu lembro ter dito que sim, nós poderíamos fazer juntos, então ela foi se sentar ao meu lado; nem dei tempo de começarmos uma conversa, já comecei a resolver as contas, eu tinha um lado obscuro que me fazia quando me sentia muito nervoso, apenas tentar mudar o sentido do momento, não viver o agora pra mais tarde sofrer por isso. Em 10 min. as contas estavam prontas, lembro de ter virado um pouco o rosto quando havia acabado para ver o que ela estava fazendo. Vi ao meio de sua mesa um papel e uma caneta rosa nada chamativa, ela escrevia rápido, na verdade tão rápido que era até difícil de entender e acompanhar o que ela escrevia, lembro dela ter parado, respirado fundo e olhou para mim, quando ela se virou, me viu olhando sério para o bilhete, foi um momento desagradável. Então virei para baixo, encarei minha mesa por um segundo e não agüentei, precisava rir, dei uma gargalhada baixa, parecendo um gemido, mas foi engraçado, então ela entregou algo na minha mesa, vi que era o papel que ela estava escrevendo, aquilo me deixou de boca aberta. Só que as palavras me deixaram surpreso...

Oi. Hann... Meu nome você já sabe, então devo ser rápida com isso, eu gosto de você menino, seus óculos e seu jeito, é diferente dos outros garotos, eles só pensam em nós como algo descartável... Faça-me mudar o conceito de vocês... Quer sair comigo no final da aula?

Ao ler até o fim e reler cinco vezes seguidas me dei conta que era verdade, eu dei novamente a minha gargalhada que dessa vez acabou saindo metade pelo nariz, parecia um porco, um porquinho sortudo em meio de uma sala de escola, eu tinha ganhado a manhã, no final eu só precisava sair com ela, mostrar como eu era de verdade, mostrar minhas poesias que por sorte, meu caderno que as continha estava guardado dentro da minha mochila, eu leria algumas e sairia tudo perfeito, talvez ganhasse ou perdesse, mas pelo menos uma vez na vida havia tentado algo.

Muita sorte é azar.

Provérbio Alemão

Havia chegado o horário, quando bateu o sinal fui em direção da porta calmamente, parecia que todos haviam descido mais rápidos, até parecia que eles planejavam algo, então durante o corredor, desci as escadas e vi a garota, ela estava mais linda naquele momento, ela sorria para mim, fazendo o meu sol raiar mais forte, o tempo parar completamente, o ar fugir de meu pulmão, então percebi algo muito engraçado, ela estava sozinha, suas amigas que eram grudadas com ela, já havia ido, eu estava só, podendo mostrar tudo que eu podia pra ela gostar realmente de mim. Lembro que ela pegou em minha mão e foi comigo até o portão da escola, lembro de que estava um silencio profundo, quase inacreditável, todos já haviam saído, então ela pediu um abraço, meu coração havia acelerado com aquelas palavras, então ergui os braços e a abracei, ela disse algo lento e parecia que sua voz continha tristeza, não consegui entender o que ela havia dito, então eu recitei algo lento em seu ouvido, uma parte do meu poema preferido de Camões:

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer;

Ao acabar ela lacrimejou uma vez e antes dela falar alguma coisa, vi um monte de bolinhas de papéis sendo atacadas em mim, desviei o foco do rosto dela e olhei para o lado, eram quase todos da escola, ou seja, os amigos dela e todos da minha sala também, todos estavam rindo, então olhei para ela, arrumei meus óculos que com a batida de uma bolinha tinha saído do lugar, ao arrumar olhei no fundo dos olhos dela e disse:

- Obrigado, não existe mesmo “amor” pelo menos não em você, espero estar feliz.

Enquanto estavam rindo eu me virei e fui portão a fora, era impossível aguentar para não chorar, a rua tinha ficado longa, as pessoas tinham ficado curiosas, as pessoas me olhavam com pena, eu chorava mais e mais; na minha idade ninguém chora em publico, mas eu sim, então acabei por indo a minha casa, contado o que aconteceu a minha mãe e meu pai, eles resolveram que eu poderia escolher o que eu queria fazer, eles iriam me mudar de colégio, iriam fazer de tudo para me ver feliz, eles realmente me amavam, só que eu já havia decidido o que iria fazer, na verdade, não iria me vingar de um jeito cruel, iria me esforçar, dessa vez não só nos estudos, mas eu iria começar a usar um famoso pecado...

A vaidade faz mais gente feliz do que o orgulho.

Antoine Rivarol

Eu pedi um mês antes de voltar às aulas, eu sabia que estava por começar o segundo bimestre então decidi algumas coisas antes de encarar os ditos-cujos que me fizeram sofrer, como por exemplo, comprar roupas novas, entrar na academia para perder um pouco de peso, encarar um oftalmologista para tirar os óculos e por lentes, e em minha opinião um dos mais importantes, dar um jeito no cabelo.

~ Um mês depois ~

Então, o grande dia, eu não havia conseguido dormir de noite, eu estava completamente nervoso, meu cabelo havia mudado de cor, havia sumido o castanho escuro desbotado e agora havia um castanho dourado, escuro e intensamente divino, liso e escorrido, trazendo algumas ondas que davam um charme especial, meus olhos acompanhavam a nova moda, eles tinham se transformado de um simples castanho escuro, para um ultra verde, não tinha como perceber que eram lente, só se olhasse muito de perto, coisa que eu não deixaria ninguém fazer; minhas roupas estavam sendo inauguradas, um casacão branco com alguns detalhes e estampas coloridas que quase não chamavam atenção e um jeans preto, mas que era de um tecido único, parecendo que foi importado e tudo isso estava acompanhando o meu corpo que estava magro, não 100% mas estava bom.

Ao chegar à escola, como não conseguia encarar os alunos assim de primeira e não queria perder o foco que era a garota, mostrar quem eu era agora, então cheguei quinze minutos atrasado, a diretora levou eu a sala, e ao abrir a porta, antes de pedir para eu entrar, entrou e deu um meio sermão, dizendo que não eram nunca mais para tocar no assunto que já havia se passado, então ela mandou eu entrar...

A inveja nada mais é que o ódio à superioridade.

Paolo Mantegazza

A cintura firme, o rosto completamente sério, acompanhado de uma cara de nojo, um passo de cada vez e assim foi. Ao passar pela porta, encarei-os, cada um me olhando de um jeito, alguns estavam comendo mosca de boca aberta, outros começaram a iluminar o rosto e alguém havia ficado estritamente triste e pelo incrível que pareça, foi só pra ela que meus olhos olharam, então eu sorri, havia feito um branqueamento nos dentes também, olhei ao professor e perguntei aonde poderia me assentar, ele disse atrás de uma garota meio gordinha, mas que era baixinha, sentava no meio da terceira fila. Mesmo depois de me sentar, olhos ainda me acompanhavam por aonde eu ia, garotas estavam sorrindo e fazendo comentários umas com as outras, os garotos já pelo contrario estavam quietos, não falavam, nem olhavam, nem faziam absolutamente nada. Foi assim até o final da aula.

Naquela noite havia sonhado em estar na praia, era tudo muito frio e eu estava com um cavalo branco, as ondas batiam sobre as pedras e o som saia lento e calmo, tudo estava perfeito até o momento que lá no meio das águas eu enxerguei alguém se afogando, era muito cruel ver aquilo e não fazer nada, então por extinto saltei sobre as águas e fui nadando até o encontro da pessoa, a puxei para cima e vi que era quem eu menos esperava, era a garota que fizera tudo aquilo comigo, eu não a rejeitei, eu a salvei, levando ela até as pedras e a colocando em segurança ali, percebi que ela respirava e seu coração batia forte, ela havia desmaiado do medo, eu a abracei, não havia motivos mais eu o fiz. Foi então que meu sonho acabou, voltando ao meu quarto que estava um pouco diferente do que sempre foi, havia menos livros e mais roupas, pensei no que estava fazendo, pensei em tudo, decidi então fazer o inesperado.

E se amanhã houver humanidade para você?

E se ficar com a aparência especialmente bacana?

E se percebêssemos que o presente é sempre presente para a gente?

E se nos conhecermos intimamente nesta semana?

Mara Gabrilli

Era terça-feira, eu já sabia como seria meu grande dia escolar, os fofoqueiros estariam falando de como eu havia mudado e as garotas estariam pensando em como chegar a mim, claro que isso é muito divertido, o melhor é agora em que eu estava andando sozinho, sem companhia nem na hora do intervalo, mesmo assim não me sentia sozinho. Mas então como um novo dia é sempre um momento de se recomeçar, eu havia chegado cedo à escola, estava com meus fones de ouvidos pendurados sobre meu casaco dourado estritamente brilhante, junto de minhas mãos eu segurava um livro em que não conseguia me concentrar nele, pois todos estavam me olhando, era incrível o que eles faziam, não conseguiam em hipótese alguma disfarçar, eu me sentia aqueles ratinhos brancos de laboratórios, esperando o momento de os usarem em algo, não era chato, era bom ser popular.

Havia se passado o tempo muito rápido, quando percebi já estava dentro da sala, esperando a garota chegar, eu achava que ela não iria pra escola hoje, muito pelo contrario, chegou atrasada, na verdade quinze minutos depois do horário de entrada, ela pediu licença ao professor e foi se sentar em seu lugar, foi tenso aquele momento, eu havia percebido que ela não estava mais tão bela, ela estava menos arrumada, com menos luz, ela não cintilava tanto, então parei sobre minha mesa, respirei calmamente e esperei para dar o bote.

Na terceira aula a professora mandou juntar-se em grupos, então me levantei e fui até a mesa dela, meu corpo estava ereto, minha cintura firme e meus olhos olhavam o dela, prendendo-a completamente neles, quando havia tido certeza que ela não escaparia de meu olhar eu disse, suavemente e com delicadeza em cada palavra.

- Minha jovem Capuleto, me daria tamanha honra de se sentar junto de mim? Sei que sou um Montecchio, mas pretendo ser digno de tamanha felicidade quando de sua boca lançar sobre mim um Sim. É suplicio e não favor!

Ela fugiu completamente de meu olhar ao ouvir a minha ultima frase, me deixou muito nostálgico em relação aos seus olhos, eu simplesmente esperaria um silêncio completo vindo dela, mas, ela me respondeu, no mesmo tom em que eu havia perguntado.

- Sim!

- Espere meio minuto, eu já volto, vou trazer uma cadeira junto de meu caderno.

Ao buscar minhas coisas, percebi então que a sala se fazia em completo silencio, todos me olhavam, alguns assustados e outros nem tanto; os fofoqueiros você já via no rosto qual seria a manchete das fofocas, “O garoto quer vingança”, estariam todos até o intervalo sabendo que eu havia feito o trabalho com quem riu de mim, com quem me humilhou e não existe motivo algum para isso, a não ser vingança. Humildemente eu estava nem aí para eles, levei tudo que iria ser usado no trabalho para perto dela e não me contive, comecei a fazer algumas perguntas, como sua vida, a escola, o que ela gostava de fazer, qual sua convivência familiar. Ela então começou a se soltar um pouco com suas palavras, mas dava para sentir o receio que tinha de mim, eu era como um monstro para ela, eu devia mudar esse conceito, e era o que eu faria, eu estava disposto a fazê-la se apaixonar por mim, a me amar mais que tudo, tendo isso em mente parecia fácil.

~ Três meses depois ~

Confiança, isso não faltava em nosso relacionamento, ao primeiro mês foi difícil, ao segundo havia sido o começo e agora acho que já está na hora, vou fazer o grande pedido, ela vai aceitar e viveremos felizes durante apenas uma vida toda... Então, me deseje sorte; não, isso eu já tenho. Desculpe.

PS: isso tudo para um pedido de namoro.

Se tu me amas,
ama-me baixinho.

Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,

.....tem de ser bem devagarinho,
.....amada,

.....que a vida é breve,
.....e o amor
.....mais breve ainda.

Mario Quintana

Vida

Passaram-se cinco anos. Aos vinte e um anos os dois haviam se casado na igreja São Cristovão. Aos vinte e dois anos ela descobriu estar grávida, tiveram uma menina, um menino e logo após outra menina, possuíram ao todo mais de dez cachorros e alguns outros mascotes, como qualquer relacionamento, houve brigas e discórdias. Ele havia terminado sua faculdade oito anos depois de acabar os seus estudos. Ela ainda não a acabou. Seus filhos estudaram e com o apoio dos pais se formaram.

Ao completar trinta e cinco anos de casados, ele a deixou; ela viveu o dobro que ele, chegou a conhecer seus bisnetos e depois partiu, foi o único momento em que sua mente e seu coração pararam de amar ele, foi o único momento em que ela realmente descobriu que apesar de tudo, foi com erro dela que ele aprendeu a ser algo, foi o único momento em que os dois fizeram de suas vidas, uma vida normal, uma vida brasileira, uma vida com coragem, uma vida de sentimentos. O verdadeiro amor se faz onde existe apenas o desejo, e o desejo cresce se tornando um raio em que atinge ao mesmo tempo o solo, e o solo se quebra trazendo a si o sentimento duas vezes maior, fazendo onde nada existiu, algo a existir.

Fim

Celina, Cleiton, João e Rute 1º ano 4


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